segunda-feira, dezembro 28, 2009

Gastronomia: ser ou não ser...

Reina em muitas cabeças deste país uma confusão sobre o significado da palavra "gastronomia" : qualquer petisco que tenha alguma ligação tradicional com uma ou outra região, cidade ou vila é logo intitulado como sendo um produto da "gastronomia local ou regional". Sem falsa modéstia posso afirmar que tenho alguma experiência em gastronomia, não só pelo facto de ter visitado bastantes restaurantes com boa classificação na área da gastronomia (Michelin, Gault-Millau, etc.) como também por ter ganho na década dos '80 dois primeiros prémios nacionais na Bélgica na qualidade de cozinheiro não-profissional . O problema é que em Portugal apelida-se "gastronomia" a tudo o que é supostamente bom e que tem alguma ligação à tradição, ao tipo de comida que nos outros países é simplesmente chamado a culinária regional, tradicional ou "du terroir". A gastronomia é uma arte que consiste em cozinhar de maneira criativa à base de produtos de óptima qualidade num ambiente agradável (o que não é sinónimo de luxo). A gastronomia é caminhar para a perfeição, procurar a originalidade com audácia , celebrar o bom gosto em tudo, e não se reduz a uma tentativa de imitar a saudosa cozinha da avó. As chamadas "tascas típicas" nas festas populares onde vemos jovens bombeiros ou futebolistas cozinhar em grandes panelas de alumínio atrás de um biombo improvisado, produzem de certeza uma excelente comida (que adoro) mas que não tem nada a ver com gastronomia: matam as saudades da culinária do passado mas não trazem nada de novo; é a diferença entre pintar uma porta e pintar um Rembrandt, ambas são actividades louváveis, mas uma delas é Arte e a outra não. Servir como "couvert" "pães de bico" moles com paté enlatado ou mayonaise de "delícias" não é gastronomia. Servir - como tantas vezes se faz - um belíssimo leitão com alfaçe murcha e batatas fritas gordurosas e frias não é gastronomia. Servir uma dose chanfana recém-descongelada e quase desfeita, acompanhada por um "vinho do lavrador" (na realidade proveniente de um garrafão de um produtor comercial) não é gastronomia. Servir "Mousse de Chocolate caseira" que de facto é feito em casa, mas à base de pó industrial da Alsa com adição de margarina não é gastronomia. Os operadores turísticos, as Câmaras e os restaurantes deveriam aprender a conter a sua exuberância verbal e utilizar os termos correctos para cada situação. Para provar a minha objectividade menciono que a minha mãe preparava magistralmente pratos tipicamente flamengos como "Waterzooi de Gent" ou "Hennepot de Poperinge", todavia ninguém alguma vez chamar-lhe-ia gastronomia, era comida tradicional fantástica e pronto...
À sua pergunta, se comi nos últimos tempos qualquer coisa notável que possa definir como gastronomia, respondo : sim Senhor, um altíssimo lombo de bacalhau ornamentado com algumas pérolas de açúcar caramelizado, banhado num azeite verde virgem (de prensa mecânica) e acompanhado por um vinho do Douro (neste caso do Douro Espanhol). Um pão saboroso com casca estaladiça. O restaurante era quente e requintado e o serviço amável. São estes os momentos que se gravam no disco duro da nossa memória.
Al te veel verwart men in Portugal de term "gastronomie" met "traditionele of regionale keuken".

sexta-feira, dezembro 11, 2009

A Doutora B.C.B.G.


Não conheço em concreto a observação do deputado Ricardo Gonçalves que provocou tanto a ira da Dra. Maria José Nogueira Pinto, mas uma coisa é certa, não é a primeira vez que a Doutora se perde em ofensas e insultos. No Conselho Nacional do CDS-PP que decorreu em Óbidos em Março 2007, a mesma Doutora B.C.B.G. também se destacou : não só pelo estilo irritante, autoritário e parcial com qual lidou os trabalhos, mas principalmente pelo insulto de "cães de fila" que lançou à cara dos apoiantes de Paulo Portas. No que diz respeito à resposta final do deputado socialista, creio que não passa de uma mera descrição do currículo político da Dra. Maria José, que de facto é caracterizado por um vaivém entre o PSD e o CDS. É sempre um espectáculo lamentável quando pessoas que se acham oriundos do "Beau Monde" perdem o seu auto-controlo e provam que não são melhores do que o resto dos mortais.

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Fernando Ruas, o salvador do Homo portucalensis?

Num tom de populismo anti-ambientalistico do nível "taberna-onde-cheira-ao-tintol-e-ao-bagaço ", já considerado como extinto pelos especialistas nos meados do século anterior, o Dr. Fernando Ruas, Presidente da Associação Nacional de Municipios Portugueses intitulou os protectores dos morcegos, dos lobos do Leomil ou das gralhas-de-bico-vermelho como (cito) "fundamentalistas bacocos que parecem esquecer que a primeira espécie que nos cumpre defender é a humana".
Nada de surpreendente porque a atitude retrograda do Dr. Ruas personifica perfeitamente a mentalidade que reina na maior parte das nossas Câmaras : tudo que tem a ver com a natureza e o ambiente é visto com um brinquedo na moda que implica a plantação de alguns arbustos nas rotundas que ornamentam as nossas cidades "modernas" (como Viseu), um discurso muito "verde" no Dia da Árvore, um canil municipal para cães abandonados, uma ETAR aqui e ali e ... já está, estamos actualizados e apresentáveis ao Mundo inteiro. Todavia a verdadeira paixão pela Natureza e pelo Ambiente, baseada em convicções sinceras ainda não chegou à massa cinzenta da maior parte dos nossos autarcas onde o lobo continua a ser um monstro que come ovelhas e o morcego um diabo voante que assusta as crianças.
Ontem, no Dia Internacional contra a Corrupção, Ban Ki-moon , o Secretário-Geral da ONU apontou a corrupção como um entrave ao desenvolvimento e o Dr. Guilherme d´Oliveira do Conselho de Prevenção da Corrupção pediu mais medidas na luta contra a mesma praga que manifestamente grassa no nosso país. Afinal, o Dr. Ruas não defenderia melhor a espécie humana em Portugal, empenhando-se na guerra à corrupção que quase de certeza infectou também alguns membros da organização que dirige e que neste país também trava o desenvolvimento. Ou será que se vê mesmo como o chefe-de-fila do Homem portucalensis na sua luta neandertalesca com o Canis lupus sinatus, com o Pyrrhocorax pyrrhocorax e com a ordem Chiroptera inteira ?
De Voorzitter van de Vereniging der Portugese Gemeenten verklaarde onlangs dat de beschermers van de Iberische wolf en van de vleermuizen fundamentalisten zijn die vergeten dat juist "de mens" de soort is die in de eerste plaats moet verdedigd worden. Ja dat zegt wel iets over de mentaliteit in die kringen. Zou deze heer niet beter de raad op volgen van Ban Ki-moon en de corruptie helpen bestrijden die in Portugal veel meer de voorutigang remt dan een paar eenzame wolven.