Neste cenário hipotético, não soa muito irrealista supor que Portugal numa guerra civil, como a de 1936, também iria ter tentado conquistar a sua liberdade de mão armada tal como os Catalães e Vascos. Más não, não vamos tão longe e imaginamos simplesmente que após quase quatro séculos, teria finalmente chegada a liberdade e democracia a toda a Península. Sob a manta da Pax Europeia supranacional, o povo de Portugal teria pensado que chegara o momento de poder escolher livremente o seu destino, sem necessidade de recorrer a armas, guerra ou terrorismo: manter-se na estrutura estatal existente ou então sair dela e optar por a independência.
Nada disso caros leitores, não é isso que se verifica, não é esta lógica que se aplica.
Nos dias que correm, num contexto idêntico mas real, os “tenores” da Comunidade Europeia vêm negar publicamente a vários povos do velho continente o direito de definir o seu futuro como comunidade por meio de uma votação livre e democrática.
Por outras palavras, “ indivíduos” que não foram eleitos por ninguém, ameaçam antecipadamente expulsar da C.E., os que teriam a ousadia de definir o seu futuro mediante o sufrágio universal.
Será que falamos de regiões subdesenvolvidas que não têm nenhuma hipótese de sobreviver economicamente e que só irão criar problemas à comunidade internacional? Não, falamos de futuros países com um PIB per capita na ordem dos 26.500€ no caso da Catalunha, dos 32.600€ como a Flandres, dos 28.900€ como o País Vasco e dos 41.000€ como a Escócia (desta última tendo em conta as suas enormes reservas energéticas).
Será que falamos de fantasias nacionalistas recentes? Não, trata-se de povos e regiões existentes e identificados no mapa da Europa há muitos séculos e, que fazem intimamente parte da história humana e cultural deste continente. Todos eles foram incorporados num estado “plurinacional” dentro do qual se sentem abusados e explorados. F oram “integrados” por meio de casamentos reais, intervenções militares ou tratados internacionais contudo nunca foram consultados os seus cidadãos.
Também foi o caso dos Croatas, dos Eslovenos, dos Lituanos, dos Estónios, etc. , todavia estes receberem o aval da comunidade internacional para independentizar-se; como também recentemente uma ilha minúscula no Pacífico e o problemático Sudão do Sul.
A mais terrível prova da insensatez de diversas instâncias internacionais é, sem dúvida, o Kosovo. Em 1999, pela primeira vez desde da segunda Guerra Mundial, um país europeu foi selvaticamente bombardeado: a OTAN fustigou durante mais de dois meses a Sérvia a fim de “convencer” aquele país a largar a sua província histórica do Kosovo, porque devido a fluxos migratórios no último século, tinha agora uma maioria etnicamente albanesa. Actualmente, o Kosovo é um país insustentável, reconhecido por poucos (Portugal fê-lo mas não a Espanha), com um PIB de 7400€/capita e que se aguenta à base da caridade internacional.
Entretanto o Sr. Barroso e outros Van Rompuy ´s vêm ameaçar os cidadãos de Barcelona, Edimburgo, Antuérpia e Bilbao para não pensar em independência à pena de serem banidos da C.E., uma posição prepotente e injusta, que mais uma vez prova que a construção Europa na sua forma actual não pertence aos povos nem às pessoas mas sim aos Estados anónimos e à nomenclatura residente em Bruxelas. Cada vez mais compara-se a Comissão ao Politburo da defunta URSS: onde tudo é decidido nas antecâmaras e em “petit comité”.
E o papel de Portugal em tudo isto? Querendo ou não, para estes povos que sonham com a independência, o nosso país continua, neste aspecto, a ser um exemplo. Conseguiu manter a sua independência durante oito séculos ultrapassando todas as crises de qualquer natureza: a confluência perfeita e bem-sucedida do povo, nação e estado.
Da minha parte, creio que Portugal deveria assumir, sem hostilizar as instituições existentes, um papel de padrinho benevolente para estas novas nações em via de nascimento. É um facto que um espaço ibérico onde convivessem além do Reino de Espanha e a República Portuguesa, também uma nação Catalã e uma Vasca (e uma Galega?) dar-nos-ia uma outra dimensão.
É também um facto que a nível europeu, quanto maior o número de países pequenos/médios com ego próprio, maior será o seu peso para contrabalançar a hegemonia dos grandes.
Concluindo, ninguém é obrigado a simpatizar com as aspirações dos povos acima mencionados, mas também ninguém pode ficar indiferente quando lhes for negado o direito básico de decidir de maneira democrática o seu próprio futuro.
PS 1. Teremos uma dívida de honra? Os
historiadores afirmam que uma das razões pelas quais Felipe III não se pôde
concentrar totalmente na “reconquista” de Portugal nos anos 1640-1650 é que
estava a braços com uma revolta na Catalunha. Entretanto Portugal ganhou algum
tempo para se preparar militarmente.
PS 2. Há algumas décadas atrás, uma certa
esquerda tinha declarado o óbito definitivo do nacionalismo, derrotado pelo
internacionalismo operário; enganaram-se bastante porque está mais vivo do que
nunca. A barba do velho Marx está cada vez mais depenada…