quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Dinheiro desperdiçado e falta de dinheiro


No dia 22-01-2013, o Dr. Aguiar-Branco, actual ministro da Defesa, criticou as verbas gastas "em excesso" na construção de auto-estradas. O ex-candidato à Presidência do PSD assinalou que desde a entrada na União Europeia foram construídos "mais de 2300 quilómetros de auto-estradas" e que “hoje o país regista (no quadro europeu) o maior número de quilómetros de auto-estrada ‘per capita’ ”. Para Aguiar-Branco, "a verdade é que esta estratégia não alcançou os resultados esperados" e pelo contrário "acelerou a desertificação do interior”. Na sua opinião a origem da difícil situação que hoje Portugal conhece, “não esteve na falta de recursos, esteve na definição de prioridades" e - numa demonstração de honestidade intelectual rara -, criticou os governos do PSD, CDS e PS que nas últimas décadas têm privilegiado, este tipo de investimentos. Pois é, mas a culpa destas escolhas erradas de desenvolvimento não deve só ser atribuída à governação central, porque de facto os nossos autarcas também não são inocentes. Todos nós recordamos que apenas há um par de anos, era de bom-tom, qualquer cacique de qualquer vila exigir para a sua terra uma auto-estrada, um TGV, um metro, uma universidade, um estádio, pavilhões multiusos, museus, uma incubadora de empresas, um parque de diversões, etc. e pressionar neste sentido os sucessivos governos. Mais ainda, este tipo de promessas mirabolantes, servia frequentemente como isco irresistível para ganhar eleições e o povo habituou-se com demasiada facilidade às inaugurações de obras (não pagas) acompanhadas por fanfarras e foguetes. Quem nestes tempos aparentemente dourados, se atreveu a alertar para o despesismo inútil, era logo denunciado como um vilão mensageiro da bota abaixo. Entretanto já utilizei várias vezes o troço Penela-Condeixa da A13 e posso fazer os seguintes comentários. Até agora o movimento naquela auto-estrada é mínimo, o que significa que o fluxo do trânsito de Penela, Miranda do Corvo e Lousã em direcção à A1 é realmente minúsculo ou que simplesmente as portagens são demasiado caras para os utentes. Para além disso, a nova estrada é perigosa com tempo de chuva (drenagem aparentemente menos eficaz do que a da A1) e o nevoeiro entre os pinhais pode tornar-se muito denso. A iluminação é quase inexistente e não há rede de telemóvel em algumas partes do percurso. Um conselho: evitem as avarias nocturnas! Entretanto, a notícia recente, que apenas dois meses após a abertura, já ruiu um viaduto em Rio de Galinhas, parece-me em simultâneo trágico e grotesco.
Quando há pouco tempo num jornal local, o Sr. Presidente da Câmara, lamentou que só 1/3 das habitações de Penela estavam ligadas à rede de saneamento, tinha toda a razão: é de facto arrepiante constatar que em 2013 a maior parte dos cidadãos de Penela não têm acesso a este tipo de serviço, normalmente considerado essencial numa sociedade moderna e evoluída. O saneamento generalizado é um dos pilares de qualquer política em prol da saúde pública e da preservação do ambiente: não é segredo para ninguém que os materiais fecais e os detergentes conspurcam gravemente os lençóis freáticos, uma situação potencialmente perigosa numa zona onde ainda muitas pessoas utilizam a água do seu poço. A principal justificação mencionada, nomeadamente a extensão e distância en­tre pequenas povoações (e subentendido a falta de dinheiro), não é sempre a única: há também casos flagrantes de planeamento débil. Um exemplo flagrante: quando há dois anos a vila de Podentes foi ligada à rede de saneamento, concretamente à nova central de bombagem (desculpem, mas não sou técnico na matéria) nas Vendas, a canalização dos esgotos atravessou quase toda a povoação referida, uma obra que provocou muito incómodo e transtorno. Todavia nenhuma habitação nas Vendas (como a minha por exemplo) teve a oportunidade de ser conectada à rede, mesmo com as condutas a passarem um metro à frente das nossas casas. A explicação era que “isto não estava previsto no orçamento”. Com outras palavras: daqui a alguns anos vão outra vez rasgar as estradas e – além das novas perturbações para a população local - o contribuinte pagará o dobro.

 

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