quarta-feira, agosto 10, 2005

MEDO


Tinha alguns 8 anos quando "aconteceu" o 25 de Abril. Lembro-me ainda muito bem da alegria dos meus pais que pareciam finalmente obter o que por tanto lutaram: a liberdade de expressão, de opinião, de escolha política, algo a que os Portugueses tanto aspiravam depois de 40 anos de ditadura. Entretanto passaram os anos e optei por participar um pouco na vida política do meu concelho. Assim no quadro das próximas eleições autárquicas esforcei-me para angariar candidaturas para o efeito.Neste contexto falei com muitas pessoas. Alguns recusaram porque tiveram outras opiniões políticas, uma pesada carga de ocupações profissionais ou simplesmente por falta de interesse: são todas atitudes respeitáveis. Todavia uma grande parte dos contactados alegou outros motivos: medo por represálias, medo de serem "apontados", medo de serem prejudicados nos seus negócios, medo de ostracismo social, medo de perder o emprego.
Já nesta campanha existem casos de pessoas incomodadas e pressionadas pelo facto de serem candidatos numa lista “inconveniente”. Situações destas são inaceitáveis no ano 2005 num país que faz parte da maior união de estados democráticos do Mundo. Não é sempre necessário referir a Madeira para demonstrar um “ deficit democrático” e não é de estranhar que os Portugueses são os mais insatisfeitos e mais descontentes face ao funcionamento da democracia (eurobarómetro da Primavera 2005).
De certeza não foi este tipo de "liberdade condicionada" que os meus pais sonharam em 1974.

Sem comentários: