terça-feira, julho 15, 2008

A Flandres, 706 anos depois : a Bélgica vacila (2)

Hoje a Bélgica está mais perto da desintegração. O estado artificial criado com a ajuda das armas franceses e concebido para ser francófono ("la Belgique sera latine ou ne sera pas") chega ao seu término. Em 1830 uma revolução de opereta acabou com o Reino dos Países-Baixos formado pelos vencedores de Napoleão como uma réplica das históricas 17 Províncias. A seguir começou um século negro para a grande maioria da população, os Flamengos. Foram mais de 100 anos de opressão económico-cultural e de tentativas contínuas para irradiar a sua língua e cultura: dezenas de milhares de Flamengos foram "francofonizados" assim como Bruxelas e diversas aldeias e vilas. A justiça, o exército e o ensino secundário, tudo era obrigatoriamente em Francês. Só em 1930 foi permitido dar aulas em Neerlandês na Universidade de Gent e só em 1967 foi editada a primeira versão flamenga da Constituição belga. Mas entretanto a constelação económica-social da Bélgica tinha mudada. Assim na segunda parte do século XX, a Flandres - o prototipo duma sociedade fortemente influenciada pela democracia cristã - tornou-se numa das regiões mais prosperas da Europa. Ao mesmo tempo, o Sul francófono, vitima de 100 anos ininterruptos de socialismo, afogou-se num marasmo de corrupção, desemprego, excesso de função publica, falência crónica no sistema de saúde e no ensino e "aproveitadorismo" social.
Podemos indicar 2 causas concretas para a crise de hoje :
1º as enormes e incessantes transferências de dinheiro que vão anualmente da Flandres para o Sul, em combinação com a recusa dos francófonos de sanear as suas contas.
2º a rejeição sistemática dos francófonos que se instalam na Flandres de adaptarem-se à língua e cultura daquela região. A Flandres (exactamente como a Valónia) é definida pela Constituição belga como sendo uma zona unilingue.
Existem só 3 soluções duráveis para a Flandres : 1º a manutenção da Bélgica mas sob a forma dum estado confederal onde quase tudo é decido ao nível das regiões. 2º a independência (seria um país pequeno mas bastante rico com um PIB 23% superior à média da Europa). 3º uma fusão gradual com os Países Baixos (a unificação de todos os Neerlandófonos da Europa e em simultâneo um pais economicamente muito forte com 2 dos maiores portos do mar do mundo). Vamos ver e esperar.

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