quinta-feira, julho 10, 2008

11 de Julho : a Flandres, 706 anos depois (1).

No 11 de Julho de 1302 um exército preponderantemente composto por populares flamengos e aliados conseguiu derrotar a fina-flor da nobreza francesa num vale pantanoso perto de Kortrijk. Esta batalha denominada “a Batalha dos esporões de ouro” (porque os Flamengos vitoriosos penduraram os esporões de ouro dos cavalheiros franceses no tecto da catedral de Kortrijk) tornou-se um símbolo para a confrontação quase milenar entre a França agressiva, expansionista e a pequena Flandres. Existem bastante semelhanças entre este confronto e a batalha de Aljubarrota uns 50 anos mais tarde: não só porque se trata da recusa armada dum pequeno povo com identidade própria em integrar-se à força num país maior, como o facto de ter ficado na memória colectiva o nome de alguns heróis populares: Portugal tem Brites de Almeida, a Padeira de Aljubarrota e os Flamengos recordam-se de Jan Breydel e Pieter De Koninck, um talhante e um escrivão.
A Flandres começou a sua história como condado em 862, mas 2 séculos antes já era mencionada em documentos da época.
São bem conhecidos os laços entre Portugal e a Flandres medieval.
No início da nacionalidade Portugal forneceu à Flandres uma duquesa (Teresa de Portugal 1183) e um duque (Fernando de Portugal 1211). Durante a reconquista na Peninsula os Flamengos participaram na libertação de Lisboa e um pouco mais tarde ajudaram a povoar os Açores. Todavia os contactos mais proveitosos situavam-se na área do comércio e dos negócios (as feitorias de Bruges e Antuérpia) e nas artes (pintura e tapeçaria artística).
O que talvez pouca gente saiba é que fomos durante uns 60 anos governados pela mesma dinastia, a dos Habsburgos espanhóis, a partir de 1580. Assim podemos dizer – com algum humor desfasado –, que os duques de Flandres (descendentes de Carlos Quinto, nascido em Gent e da sua esposa portuguesa) reinaram em Portugal durante a referida época. As guerras religiosas – em consequência ao surgimento do protestantismo – significaram o declínio da prosperidade nas Flandres e o deslocamento do centro de gravidade das 17 Províncias para o Norte, a actual Holanda.

(texto a continuar muito em breve)

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