quinta-feira, maio 15, 2014

A Europa dos Estados ou a Europa dos Povos?


                       
(publicado no jornal "Região do Castelo"
Demos por um momento liberdade à nossa imaginação e supomos que na época da Restauração, Dom João IV tinha perdido todas aquelas batalhas entre 1640 e 1665 e, que consequentemente o nosso país ficava manu militari submetido à coroa dos Habsburgos filipinos. É muito provável que nesta situação Portugal teria continuado dentro do reino vizinho com o estatuto duma região de algum modo autónoma, mas de certeza iria sobreviver no fundo da alma deste povo a aspiração indomável à independência total.
Neste cenário hipotético, não soa muito irrealista supor que Portugal numa guerra civil, como a de 1936, também iria ter tentado conquistar a sua liberdade de mão armada tal como os Catalães e Vascos. Más não, não vamos tão longe e imaginamos simplesmente que após quase quatro séculos, teria finalmente chegada a liberdade e democracia a toda a Península. Sob a manta da Pax Europeia supranacional, o povo de Portugal teria pensado que chegara o momento de poder escolher livremente o seu destino, sem necessidade de recorrer a armas, guerra ou terrorismo: manter-se na estrutura estatal existente ou então sair dela e optar por a independência.
Nada disso caros leitores, não é isso que se verifica, não é esta lógica que se aplica.
Nos dias que correm, num contexto idêntico mas real, os “tenores” da Comunidade Europeia vêm negar publicamente a vários povos do velho continente o direito de definir o seu futuro como comunidade por meio de uma votação livre e democrática.
Por outras palavras, “ indivíduos” que não foram eleitos por ninguém, ameaçam antecipadamente expulsar da C.E., os que teriam a ousadia de definir o seu futuro mediante o sufrágio universal.  
Será que falamos de regiões subdesenvolvidas que não têm nenhuma hipótese de sobreviver economicamente e que só irão criar problemas à comunidade internacional? Não, falamos de futuros países com um PIB per capita na ordem dos 26.500€ no caso da Catalunha, dos 32.600€ como a Flandres, dos 28.900€ como o País Vasco e dos 41.000€ como a Escócia (desta última tendo em conta as suas enormes reservas energéticas).
Será que falamos de fantasias nacionalistas recentes? Não, trata-se de povos e regiões existentes e identificados no mapa da Europa há muitos séculos e, que fazem intimamente parte da história humana e cultural deste continente. Todos eles foram incorporados num estado “plurinacional” dentro do qual se sentem abusados e explorados. F oram “integrados” por meio de casamentos reais, intervenções militares ou tratados internacionais contudo nunca foram consultados os seus cidadãos.
Também foi o caso dos Croatas, dos Eslovenos, dos Lituanos, dos Estónios, etc. , todavia estes receberem o aval da comunidade internacional para independentizar-se; como também recentemente uma ilha minúscula no Pacífico e o problemático Sudão do Sul.
A mais terrível prova da insensatez de diversas instâncias internacionais é, sem dúvida, o Kosovo. Em 1999, pela primeira vez desde da segunda Guerra Mundial, um país europeu foi selvaticamente bombardeado: a OTAN fustigou durante mais de dois meses a Sérvia a fim de “convencer” aquele país a largar a sua província histórica
do Kosovo, porque devido a fluxos migratórios no último século, tinha agora uma maioria etnicamente albanesa. Actualmente, o Kosovo é um país insustentável, reconhecido por poucos (Portugal fê-lo mas não a Espanha), com um PIB de 7400€/capita e que se aguenta à base da caridade internacional. 
Entretanto o Sr. Barroso e outros Van Rompuy ´s vêm ameaçar os cidadãos de Barcelona, Edimburgo, Antuérpia e Bilbao para não pensar em independência à pena de serem banidos da C.E., uma posição prepotente e injusta, que mais uma vez prova que a construção Europa na sua forma actual não pertence aos povos nem às pessoas mas sim aos Estados anónimos e à nomenclatura residente em Bruxelas. Cada vez mais compara-se a Comissão ao Politburo da defunta URSS: onde tudo é decidido nas antecâmaras e em “petit comité”.
E o papel de Portugal em tudo isto? Querendo ou não, para estes povos que sonham com a independência, o nosso país continua, neste aspecto, a ser um exemplo. Conseguiu manter a sua independência durante oito séculos ultrapassando todas as crises de qualquer natureza: a confluência perfeita e bem-sucedida do povo, nação e estado.
Da minha parte, creio que Portugal deveria assumir, sem hostilizar as instituições existentes, um papel de padrinho benevolente para estas novas nações em via de nascimento. É um facto que um espaço ibérico onde convivessem além do Reino de Espanha e a República Portuguesa, também uma nação Catalã e uma Vasca (e uma Galega?) dar-nos-ia uma outra dimensão.
É também um facto que a nível europeu, quanto maior o número de países pequenos/médios com ego próprio, maior será o seu peso para contrabalançar a hegemonia dos grandes.
Concluindo, ninguém é obrigado a simpatizar com as aspirações dos povos acima mencionados, mas também ninguém pode ficar indiferente quando lhes for negado o direito básico de decidir de maneira democrática o seu próprio futuro.


PS 1. Teremos uma dívida de honra? Os historiadores afirmam que uma das razões pelas quais Felipe III não se pôde concentrar totalmente na “reconquista” de Portugal nos anos 1640-1650 é que estava a braços com uma revolta na Catalunha. Entretanto Portugal ganhou algum tempo para se preparar militarmente.

PS 2. Há algumas décadas atrás, uma certa esquerda tinha declarado o óbito definitivo do nacionalismo, derrotado pelo internacionalismo operário; enganaram-se bastante porque está mais vivo do que nunca. A barba do velho Marx está cada vez mais depenada…

 

segunda-feira, março 17, 2014

Poetas sem harpa e herois por obrigação

(Publicado no Jornal "Região do Castelo")

No número anterior foi publicada nestas páginas uma diatribe contra os Poetas (na política) e os Politólogos no contexto da passagem da Troika por Portugal.
No que diz respeito aos Poetas na política, ninguém pode negar que a esquerda europeia tenta há décadas apropriar-se do monopólio de tudo o que é cultura e arte, incluindo a poesia: foi talvez uma das consequências de maio ´68 e do snobismo revolucionário daquela época. A habilidade táctica utilizada é a colagem obrigatória do “politicamente correcto” ao valor intrínseco de qualquer tipo de arte. O resultado deste modelo de raciocínio tendencioso implica que quem não for da esquerda não pode ser bom artista ou homem de cultura.
É obviamente uma posição grotesca, porque se trata de uma ideologia que usa a preferência política do artista como critério determinante para emitir julgamentos sobre o seu talento. Uma incongruência, mas que pegou. Agora francamente, nos dias que correm, quem - mesmo sabendo que fizeram escolhas políticas muito erradas – ousa ainda intitular Knut Hamsun, Leni Riefenstahl, Brasillach ou Céline como nulidades artísticas? Seria tão absurdo como desprezar a poesia de Pablo Neruda porque escreveu uma extensa “Ode a Estaline” ou Bertold Brecht porque durante algum tempo foi cúmplice do regime opressivo da DDR.
Infelizmente, devemos admitir que hoje em dia, continua a ser um facto que um versejador qualquer – a condição de militar no partido certo – pode ser transformado quase automaticamente num génio literário e que para um deputado medíocre apresentar-se como poeta é a chave para um “upgrading” mediático infalível. A musa será avermelhada ou não será: os Jacks Langs e outros Manueis Carrilhos fizeram bem o seu trabalho
A palavra “politólogo” significa na sua origem “uma pessoa especialista em política” - supostamente um profundo conhecedor e analista - mas actualmente esta definição diluiu-se um pouco e em geral somos confrontados com indivíduos que são praticamente - como goza um blogue famoso – “tudólogos”: são “sábios” que sabem tudo sobre tudo, são os treinadores da bancada política. Frequentemente comentam na televisão e o público adora. Se são bem pagos ou não, não é relevante, porque numa economia semi-liberal como a nossa, tudo o que tende para o vedetismo é bem pago: seja futebolista, cantor ou politólogo. Mas honestamente, os verdadeiros políticos “de raça” também não são tudólogos?
A maioria absoluta (131) dos deputados é composta por juristas, professores e técnicos superiores de diversas administrações, mas todos discutem, falam e decidem sobre tudo: agricultura, saúde, pesca, trânsito e ambiente. Ainda bem que existe a “disciplina do grupo” para orientar alguns no momento de votar. Nem falamos aqui dos que são ou foram ministros com um diploma artificialmente embelecido. Resumindo: na minha opinião, o “politólogo comentador” não é uma criatura basicamente diferente do político convencional; só que fala um pouco mais na televisão em horário nobre e que tem, por motivos de “espectáculo ”, a obrigação de dar regularmente algumas alfinetadas ao Governo em função. O leitor dirá: e alguém como Miguel Sousa Tavares? Não é político nem parlamentar, mas todos sabemos que como “tudólogo assumido” poderia exercer estes papéis na perfeição.
Sobre a qualidade dos “corajosos” que - alegadamente em contraste com os Poetas e os Politólogos - têm de decidir e resolver, podemos ser muito breves. A crise afectou todos os países da zona Euro, mas a grande maioria não teve de recorrer a qualquer resgate. Os que actualmente “decidem e resolvem” não o fizeram por heroísmo ou lucidez mas porque foram obrigados por instâncias externas em troca de empréstimos, para poder evitar a falência iminente do estado. Tem toda a razão o Ricardo Castanheira, recentemente expulso do PS de Coimbra, quando diz: “ os partidos em Portugal ainda não compreenderam o que se está a passar no Mundo”.

PS 1. No caso das obras de Miró: a questão fulcral é de saber se o Estado Português tem condições financeiras para abdicar dos 80 milhões de euros que vale esta colecção. Se o Miró era Espanhol ou Português (ou Catalão) não tem nada a ver com o assunto, os apreciadores da Arte não costumam ter reflexos chauvinistas deste género.
PS 2. Quando o Dr. Seguro admitiu o insucesso dos 4 últimos governos (incluindo o do PSD-CDS) em realizar as suas promessas, falou - finalmente - verdade. Como também o Dr. Passos Coelho falou verdade quando afirmou que “os governantes devem mudar de mentalidade”, que “não voltaremos à riqueza ilusória de antes” e que “alguns acham que são donos do país”.  Espero que tenha falado para todos os níveis de governação e que tenha tentado lançar algumas farpas também para dentro do seu próprio partido…
PS 3. Finalmente, estranha-me que num artigo inspirado por considerações de ordem partidária, o autor se afixa como representante de uma empresa. Normalmente numa democracia ocidental, as empresas – sendo agentes económicos e não políticos - evitam ser publicamente associadas a um partido político: por respeito pelas opiniões dos seus colaboradores e das dos seus clientes. Mas de certeza que alguma coisa me escapa…

segunda-feira, agosto 26, 2013

As autárquicas em Penela (1): Que mensagem gostaria de deixar aos Penelenses

 

(publicado no 
Jornal "Região do Castelo" )

Mais uma vez o eleitor será submetido aos cantos das sereias dos dois grandes partidos. Uma máquina de propaganda poderosa não hesitará em usar todos os meios – crise ou não – para perpetuar a sua posição dominante. Nestes tempos difíceis podemos optar por um outro caminho que consiste – seguindo a lógica do Presidente da República – na junção de todas as forças vivas políticas, também em Penela. Se for eleito, garanto que irei fazer todos esforços possíveis para incluir todos os Penelenses de todos os partidos na governação do Município. Não haverá mais vereadores sem pelouro. Bom senso e sinceridade podem e devem ultrapassar os preconceitos inerentes ao sectarismo partidário. Dêem-nos uma “chance” para servir de hífen entre as diferentes facções da população de Penela porque afinal o Amor às Pessoas pode ser tão decisivo como o à Terra. Unidos iremos mais depressa e mais longe. Uma mudança de mentalidade impõe-se, também a nível autárquico, para garantir a nossa permanência na Comunidade Europeia e, no nosso concelho, isto é só possível mediante uma alternância democrática. Fala-se muito de orgulho, mas a realidade é que no dia de hoje uma troika estrangeira tomou as rédeas do país. A nossa Penela não repetirá os erros do passado e colaborará activamente na restauração da independência financeira e económica de Portugal. Sim nesta Penela e neste Portugal terei e teremos ainda mais orgulho.

segunda-feira, agosto 12, 2013

Lei da pureza em Penela...


Há na Alemanha uma velha Lei, ainda em vigor, (das Reinheitsgebot de 1516) que define que só pode ser denominada cerveja a bebida que resulta da fermentação de água, cevada e lúpulo, um regulamento que dificulta a comercialização de cervejas estrangeiras naquele pais como por exemplo as nossas que contêm também milho ou arroz.
Definir critérios de pureza ou de autenticidade foi sempre um método para justificar exclusões não só a nível comercial mas também na política.
Assim, na altura das eleições autárquicas surge sempre no microcosmo político de Penela um certo discurso parecido com a velha Lei referida: existe algures (e sabemos todos onde) um Penelense mais puro do que os outros e só ele tem capacidade para gerir Penela, só ele tem a exclusividade do Amor Sincero à Terra, só este ser humano ideal conhece a fundo Penela, cada instituição, cada pessoa, cada galinha, cada arbusto, cada m2 e só esta criatura, quase mítica, pode resolver os problemas do concelho (se porventura ainda sobrasse algum…). Dom Sebastião, Superman e o Pai Natal estão bem vivos e visivelmente entre nós.
Dizer que é um caso de xenofobia “soft” a nível paroquial seria talvez exagerado, mas que consta de uma atitude latente de discriminação mental, uma tradução suave da doutrina “Blut und Boden”, de certeza é: respeitamos os de “fora” e tratamo-los bem, mas na profundez da nossa alma estamos convencidos que somos de longe, de muito longe, os melhores de todos em tudo.
Assim atinge-se o cúmulo do sofismo:
1. quem viveu sempre neste concelho é melhor do que os outros;
2. só o melhor serve para dirigir este concelho;
3. só alguém que viveu sempre em Penela é capaz de ser Presidente deste concelho.
Para os especialistas em “empreendorismo” e “gestão” que abundam nesta Terra, não será segredo que muitas empresas grandes e sérias façam exactamente o contrário: para preencher vagas no topo, recorrem sem hesitar a elementos de fora, frequentemente sem qualquer ligação a ou experiencia no ramo, a fim de introduzir ideias frescas e novos impulsos dinamizadores e para se libertar de comportamentos estereotípicos e de vícios instalados. Dispor de um campo de visão largo não pode ser unicamente o resultado de algumas deslocações, leituras ou participações em congressos, não, depende basicamente de experiências interiorizadas  e adquiridas mediante trabalho a sério, inserido numa sociedade competitiva. De facto -se não fosse assim - os peixes de aquário seriam seres muito mais inteligentes, pois observam dia após dia, anos após ano, a vida humana na sala de estar dos seus donos. Para além disso, estas mesmas pessoas devem ter ficado muito indignadas (claro, só interiormente) quando num passado recente foram confrontadas com candidaturas paraquedistas como a de Santana Lopes na Figueira e devem estar diariamente enjoadas (claro, só interiormente) quando observam no dia de hoje como alguns trocam de concelho, como nós mudamos de calças: Ílhavo por Aveiro, Sintra por Lisboa ou Gaia por Porto…
Honestamente, não gosto da ostracização pública e “a priori” de candidatos para as eleições autárquicas que – supostamente - não disponham de um certificado de origem adequado: a exigência para a endogeneidade absoluta pode ser justificada para chouriços, vinhos e queijos, mas para o futebol e a política não é tão manifesto.
Tudo isto deveria ser ainda mais evidente num país gerido há dois anos – a convite do Governo de Portugal - pelos puríssimos estrangeiros da Tróika, que além de ter a tarefa de (tentar) endireitar – mais uma vez - as finanças de Portugal, servem de “bode expiatório” perfeito para canalizar e absorver a ira pública contra os cortes, a austeridade e a pobreza.
Ao contrário do que querem fazer crer ao Povo, é exactamente a hibridização, a introdução de elementos alheios, que vitaliza e dinamiza. Por tudo isso digo em voz alta: bem-vindo à diversificação, à pluralidade, à heterogeneidade; não abram só as portas, mas também as janelas, puxem os autoclismos e liguem ventiladores e exaustores...
Para bom entendedor meia palavra basta.

terça-feira, agosto 06, 2013

"A Febre Autárquica" em Penela (1)

No dia 28 de Julho - em plena época de férias - passei na fonte chamada Bica do Frade (na estrada de Podentes para Chão de Lamas) onde existe uma zona de piquenique e constatei que estava tudo num estado lastimável, sujo e poluído.(foto à esq.). Cinco dias mais tarde voltei e notei que o sitio foi entretanto limpo e pintado (foto em baixo). Neste caso parece o calendário das eleições é mais importante do que o calendário da temporada turística.

segunda-feira, julho 01, 2013

Desprezar os Flamengos, a maneira errada de "vender" Portugal...


Nos dias 29 e 30 de junho 2013 organizou-se em Bruxelas, capital da Bélgica, no Parque do Cinquentenário (Parque du Cinquantenaire - Jubelpark) , um evento, chamado " Le meilleur de Portugal", com a intenção de promover a cultura, serviços e produtos Portugueses. Segundo o cartaz os organizadores eram o eurodeputado do CDS-PP, Nuno Melo, a CAP e a Ponte, uma Associação para a Promoção da Cultura Lusófona na Bélgica; a iniciativa era apoiada -entre outros- pelo Governo de Portugal e pela Embaixada de Portugal em Bruxelas. Diversas empresas Portuguesas deram o seu contributo.
A Bélgica é um país com um equilíbrio linguístico delicado: de facto, após um século de domínio cultural, político e económico dos francófonos, a Flandres - onde vive 3/5 da população belga - conseguiu libertar-se do jugo francófono e obter o reconhecimento da sua identidade cultural. Assim a Bélgica tornou-se num estado federal com basicamente uma zona unilíngue néerlandófona (a Flandres, no Norte), uma zona unilíngue francófona  (a Valónia, no Sul) e uma zona oficialmente bilíngue, a capital Bruxelas.
Para a pequena história, devemos mencionar que a Flandres produz aproximadamente 2/3 do PIB belga, tem as suas contas globalmente em ordem e subvenciona há décadas - com enormes transferes de dinheiro - o Sul, sempre deficitário mas, mesmo assim, teimosamente socialista há mais de um século..
Quem é hospede da Bélgica deveria conhecer estas realidades e tomá-las em conta quando quer promover naquele país a cultura e os produtos Portugueses: ignorar a língua oficial da grande maioria dos Belgas é sem duvida uma falta grave de educação e constitui uma ofensa para os Flamengos.
Claro, pode muito bem ser que a Super Bock, o café Delta, a TAP e as outras empresas participantes não tenham a mínima vontade de comercializar os seus serviços e produtos na parte economicamente mais forte, mais povoada e com mais poder de compra da Bélgica , e - se for esta a estratégia - estão no bom caminho e agiram bem.
Todavia, seria bom que alguém explicasse aos responsáveis Portugueses em Bruxelas que o desrespeito pela língua de 6 milhões de Belgas dentro das suas próprias fronteiras é sentido como uma provocação e causa antipatias, especialmente quando oriundo de um país que é extremamente exigente - e com todo o direito - em relação ao uso do idioma nacional no seu próprio território.
Tenho conhecimento que os muitos Portugueses que habitam hoje em Flandres e que frequentemente têm o Néerlandês como segunda língua e não o Francês, concordam plenamente com este ponto de vista.
Para além disso, não é uma das regras básicas de qualquer actividade comercial, tentar criar no potencial cliente empatia e simpatia, evitando de irritá-lo desde o primeiro contacto?

Finalmente, para ser completo, quero mencionar que contactei várias vezes o gabinete do eurodeputado Nuno Melo, com mais de um mês de antecedência ao evento e só recebi - mesmo insistindo - respostas evasivas, sem a mínima vontade real de remediar esta situação. Hoje conversei  também com o Sr. Carvalho, da Associação a Ponte, que também só utilizou subterfúgios para explicar o acontecido. Igualmente contactado hoje, o representante da CAP em Bruxelas, teve a reacção mais sensata e construtiva, prometendo que para o próximo ano ia recorrer à minha ajuda para traduzir o cartaz.
Amigos Portugueses, quem quer ainda aplicar na Bélgica o slogan "et pour les Flamands la même chose" vive na época errada e é bom que soubesse que na altura a resposta à esta provocação era: " Geen Vlaams, geen centen", o que em tradução livre significa "Quem despreza a nossa língua, não merece o nosso dinheiro". 

"Minha pátria é minha língua", não foi o que disse o maior poeta Português de todos os tempos?

(Podem eventualmente reagir nos e-mails abaixo mencionados)

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Op 29 en 20 juni 2013 werd in het Jubelpark in Brussel een "event" georganiseerd met de bedoeling de Portugese cultuur, diensten en produkten beter bekend te maken. Jammer genoeg werd alle voorafgaande promotie alleen gevoerd in het Frans (en natuurlijk Portugees). Ik kontakteerde de organisatoren en wees hen erop dat de meerderheid der Belgen Nederlands spreekt en dat Brussel officieel tweetalig is. Één antwoordde met uitvluchten, een andere stelde dat  hij alleen Frans en Engels nodig heeft om in ons land handel te drijven, de derde (CAP = Portugese Boerenbond) beloofde beterschap. Wie mijn standpunt deelt kan, op beleefde en vriendelijke wijze, zijn mening meedelen aan
nuno.melo-office@europarl.europa.eu 
infos@ponte.be 
cap.bxl@skynet.be






quinta-feira, junho 13, 2013

Há muito para fazer - ou - haveria um erro nas minhas contas?

Hoje, o governo da Região Autónoma da Flandres publicou um relatório sobre as exportações agrícolas em 2012. Segundo Kris Peeters, o Presidente daquela  Região, as exportações agrícolas (no sentido largo da palavra) cresceram com 8% em 2012 . Assim as exportações da agricultura flamenga atingiram  80% das exportações totais da Bélgica neste sector (aproximadamente 30 mil milhões de um total de 38,4 mil milhões de euros). A Flandres tem uma superfície de 13.600 km2, um pouco mais do que a metade do Alentejo (26.150 km2) com uma população de aproximadamente 6 milhões de habitantes, o que significa que não existem aí muitos espaços abertos.
Segundo o  INE a agricultura Portuguesa exportou em 2011 2.225 milhões de euros (um crescimento de 13% em relação a 2010). As duas fontes abaixo mencionadas indicam mais ou menos o mesmo valor

http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO057622.html
http://www.mundoportugues.org/content/1/11370/sector-primario-portugal-dominado-pela-agricultura-vale-mil-milhoes-euros/

Podemos concluir que a tarefa básica de Portugal existe antes de tudo em trabalhar, desenvolver, estudar, criar, inovar e menos em gritar, manifestar, fazer greve, erguer punhos ou cantar "Grândola..." ou então - outra alternativa - pode sair de uma Comunidade Económica onde os resultados  contam e sempre vão contar. Para ficar mais uma vez "orgulhosamente só..."

PS. Por motivos de honestidade intelectual devemos mencionar que os números apresentados da Flandres incluem produtos transformados da agricultura  como são a cerveja ou o chocolate, facto  que pode alterar de algum modo a diferença entre Portugal e a Flandres.

sexta-feira, junho 07, 2013

Engenharia espanhola: o submarino que se afunda...

 
O novo submarino espanhol tem peso a mais. Especialistas temem que no momento do seu lançamento, o submarino irá logo afundar-se. O Ministério espanhol da Defesa pediu a ajuda de uma empresa americana para resolver o problema. O "Isaac Peral" é o primeiro de uma série de 4 novos submarinos destinados à "Armada" espanhola. O projecto custou até agora 2,7 mil milhões de dólares. O "Isaac Peral" estava quase pronto quando o problema foi detectado. O barco com comprimento de 71 metros e uma tripulação de 40 homens, tem um sobrepeso de setenta toneladas.  Nos cálculos iniciais foi feito um erro, que depois nunca mais foi detectado.
A Electric Boat, uma empresa americana, foi chamada para procurar uma solução. A "Armada" espanhola recusa diminuir o peso do submarino por meio da redução de infra-estructuras ou de armamento. Pondera-se agora "alargar" o navio com mais 5 ou 6 metros. A adaptação do submarino demorará no mínimo 2 anos. O Ministério da Defesa espanhol afirmou que problemas destes são normais em projectos deste género. A Electric Boat planeia cobrar para o seu trabalho 14 milhões de dólares, pagáveis em 3 anos.
Mais em: http://politica.elpais.com/politica/2013/05/08/actualidad/1368033966_797022.html

segunda-feira, junho 03, 2013

Embaixador em Portugal de uma das melhores cervejas do Mundo



Foi para mim uma grande honra, ser eleito "Embaixador em Portugal para 2013" de uma das melhores cervejas do Mundo, a "Gulden Draak". A "Gulden Draak" é uma cerveja belga de fermentação alta e deliciosamente aromática, produzida numa fábrica de cerveja familiar e tradicional situada em Ertvelde, uma aldeia no coração da Flandres, mais concretamente nos arredores da cidade de Gent (Gand). O símbolo desta cerveja, que vemos nos copos e nas garrafas, é o Dragão Dourado, estátua emblemática colocada na ponta do campanário do Belfort da cidade referida. Para ser completo, publico aqui uma ficha técnica desta maravilha engarrafada. Atenção, esta ficha não foi elaborada por mim!

quinta-feira, maio 16, 2013

Aperfeiçoar a nossa democracia imperfeita

(texto publicado no n º 103 do jornal "Região do Castelo")
 
Durante o debate sobre o “Estado Social”, organizado por este jornal, foi especulado durante alguns momentos sobre o eventual perigo que corre a democracia com o agravamento da actual crise financeira e económica.

A palavra “democracia” é um toldo muito grande e muito elástico capaz de cobrir muitos conteúdos diferentes. Para a maior parte de nós, a ideia de democracia está conectada à “soberania do povo” e consequentemente à“liberdade” e - assim sendo - será que a democracia Portuguesa de hoje corresponde perfeitamente a estes requisitos básicos? A resposta é curta e simples: só parcialmente.

O 25 de Abril entregou o poder - após um período de hesitações turbulentas – não ao conjunto de todos os cidadãos que formam o povo, mas sim aos partidos políticos; assim estamos de facto numa “partidocracia”, conceito em vários pontos restritivo da “soberania do povo inteiro” porque limita obrigatoriamente a diversidade do pensamento individual a cinco, seis ou oito correntes dominantes: quem não se enquadra nelas, não conta. Por exemplo, para quem aprova as escolhas económicas de um partido mas rejeita as suas opções morais (por exemplo, no caso do aborto ou do casamento gay), não existe solução: aceita-se o pacote global ou então abstém-se. Ainda mais frustrante é a situação do eleitor que votou por um partido à base do programa eleitoral apresentado, para depois assistir a uma governação contrária às promessas feitas: ficará impotente para reagir até à próxima ida às urnas.

No lugar da palavra feia “partidocracia” usa-se preferencialmente o eufemismo lisonjeiro “democracia representativa”, uma terminologia bonita que todavia não consegue esconder que aquela fórmula não corresponde ao ideal que a humanidade procura há milénios. Vemos de facto, que neste sistema, a intervenção do povo é limitada a um convite quadrienal para se pronunciar sobre listas cozinhadas dentro dos cenáculos dos partidos e publicitadas com grandes operações de marketing (em parte pagos pelos contribuintes): e aqui acaba o direito de intervenção do cidadão. Em Portugal -ao contrário do que se passa noutros países -, o cidadão independente não pode aspirar a conquistar um assento no parlamento se não for através de uma lista partidária, facto que significa evidentemente um sério esvaziamento do conceito da“cidadania”. Para além disso, também em Portugal, um eleitor não dispõe de qualquer mecanismo para alterar a sequência dos candidatos nas listas como imposta pelos partidos: na realidade, votamos em partidos e não em pessoas. Isto faz com que é quem domina o aparelho do partido que decide quem e em que posição estará na linha de partida para a corrida às cadeiras parlamentares. Assim é compreensível que dentro destes partidos sejam continuamente travadas duras guerras“fratricidas” e que aí floresçam “grupos de pressão”, “correntes”, ”alas” “clãs”, “barões”; todos sabemos que existem abertamente à luz do dia “dinastias familiares ” que se perpetuam às renas de vários partidos e onde os pais, filhos, primos, netos se sucedam de geração em geração, como se tratasse de linhas genéticas superdotadas para representar o povo. Surpreende-me sempre como certos povos optaram por um regime republicano abolindo a existência de castas privilegiadas para depois tolerar o surgimento de “novas nobrezas hereditárias”seja a nível nacional, seja a nível europeu. Há outra atitude pouco democrática em uso nos partidos – quase sempre em conexão com decisões importantes a tomar– que consiste na imposição da famosa “disciplina partidária” que em geral acaba no voto unânime: um atentado intencional à liberdade pessoal.

Tudo isso faz com que o caminho certo para conseguir uma carreira política bem-sucedida seja integrar-se desde jovem nas fileiras de uma ou outra Jota: são na realidade comunidades onde jovens ambiciosos, de algum modo imaturos, são suavemente endoutrinados e formados em “política profissional” sem ter adquirido sérias experiencias da vida real: É sintomático neste contexto que Portugal tenha actualmente tanto como PM ou como chefe da oposição, um elemento oriundo deste microcosmo de predestinação politica, que num passado muito recente também nos legou um José Sócrates e um Miguel Relvas.

A velha “boutade” de Churchill, em que disse que a democracia não é perfeita mas que mesmo assim é o melhor sistema de governação disponível, corresponde provavelmente à verdade. Todavia, em tempos atribulados como os que correm, arrisca-se a ver o cidadão saturado desta democracia parcial e incompleta que não lhe consegue garantir as liberdades básicas, inerentes ao estado social, como são o direito ao trabalho, à habitação, à saúde e ao acesso à justiça e educação. O cidadão em apuros que vê a sua família sofrer dia após dia, mês após mês, pode muito bem sucumbir à tentação de dar ouvidos a figuras messiânicas que pregam outros modelos de governação, especialmente quando estes profetas, além de se perfilarem mais justos, mais honestos e tecnicamente mais competentes também podem projectar uma sociedade com empregos, casas, escolas e hospitais de qualidade e um estado a funcionar. Será que - em situações de desespero-importa muito se a receita para a salvação implica mais autoritarismo e menos liberdade? Existem diversos sinais que testemunham o descontentamento popular para com o sistema em vigor. Vemos sinais negativos como são as grandes percentagens de eleitores que abdicam da sua ida às urnas ou os votos de protesto que resultam na eleição de palhaços (como na Itália ou no Brasil); todavia também há reacções positivas e construtivas como observamos aqui no nosso país e que demostram um empenho cívico acrescido: menciono só a petição pública organizada pelo MIRE (Movimento Independente para a Representatividade Eleitoral), que quer possibilitar candidaturas independentes (não-partidárias) ao parlamento e o Movimento “Revolução Branca” que zela pela interpretação eticamente mais pura e dura da lei de limitação de mandatos para autarcas.

Qualquer estagnação no aprofundamento da democracia origina retrogressão ou desvios e imperativamente a democracia terá de evoluir no sentido da sua definição original: o poder político nas mãos do povo inteiro, sem intermediários nem condicionantes, por outras palavras, a “democracia directa”.É óbvio que um sistema destes implica um povo culto, educado, interessado, informado e imune aos apelos dos manipuladores e populistas, mas no entanto é possível: não só funcionava na antiga Grécia mas também funciona em países bastante evoluídos como a Suíça (a nível nacional) ou na Alemanha (a nível de vários “Länder”).Também alguns estados dos EUA aplicam a democracia directa, o que contrasta bastante com o modelo caricato de democracia aí em vigor a nível federal: há dois séculos, dois partidos, abertamente financiados pelo grande capital e pelos lobbies, monopolizam o poder num regime de alternância.

Pode parecer utópico esforçar-se para a implantação da democracia directa, mas não é: a tecnologia está do nosso lado e é perfeitamente legítimo esperar que dentro de uma ou duas décadas a nossa sociedade seja completamente informatizada e toda a gente sem excepção estará quase continuamente ligada à Internet. Isto abrirá o caminho a uma E-democracia (também chamada DED – Democracia Electrónica Directa ou DDD – Democracia Directa Digital): dezenas de grupos de trabalho em muitos países (Austrália, Reino Unido, Suécia, EUA, etc.) já estão a preparar a transição para a democracia digital. Assim será possível ouvir a voz de todos em tempo real, assim será possível fiscalizar a governação em qualquer momento, assim aumentará a transparência e a qualidade da democracia.

Para terminar, uma última observação ligada à actualidade, sobre um lado algo masoquista de uma parte da sociedade Portuguesa. De facto, consternados e de boca aberta, notamos que se torna um hábito convidar políticos politicamente falhados para serem “comentadores” nos meios de comunicação social. Por outras palavras, é oferecido a pessoas que chumbaram no seu próprio partido ou que foram derrotados nas urnas, um “tempo de antena”para se debruçar sobre a actualidade política, tempo que utilizam efusivamente para explicar o seu falhar e para freneticamente ajustar contas com os seus rivais dentro e fora do partido. E se chamássemos empresários falidos para explicar o empreendorismo ou generais derrotados para filosofar sobre a defesa nacional … Entende quem pode.

terça-feira, abril 23, 2013

Odete Santos : dois autogolos numa semana

 


DOMINGO ABRIL 14, 2013: ODETE SANTOS NO SEU PIOR
A propósito do primeiro Centenário de Nascimento de Álvaro Cunhal veio à Guarda a antiga deputada comunista Odete Santos. Para falar de um livro que Cunhal escreveu sobre Arte. A intervenção de Odete foi, para mim (e, acredito que para mais alguns presentes), não só uma decepção mas, quase, um desperdício de tempo. É que a oradora apresentou-se bastante mal preparada, cometendo erros e sendo leviana em determinadas apreciações. Ao mesmo tempo parecia cansada e até enfadada. Porém, o assunto e a evocação de Cunhal mereceriam que Odete se informasse melhor e estruturasse a apresentação. Preferiu transmitir as suas opiniões (em geral mal fundamentadas) sobre a arte ao serviço de determinada ideologia do que apresentar o livro de Cunhal. Não sei se ela terá pensado que ... "para quem é bacalhau basta". Sei é que me senti ofendido (como elemento de uma plateia que deve ser tratada com respeito e não com displicência). Foi pena! O que valeu é que ao lado de Odete estava alguém que, nitidamente, tinha mais informação acerca da obra. E que, diplomaticamente, ajudou a que a sessão não tivesse sido um desastre completo. (publicado no Blogue "Café Mondego" de Américo Rodrigues)
SÁBADO ABRIL 20, 2013: ODETE SANTOS NO SEU PIOR
A propósito de um debate organizado pelo Jornal "Região do Castelo" veio à Penela a antiga deputada comunista Odete Santos. Para debater e falar sobre "Os valores da democracia" . A intervenção de Odete foi, para mim (e, acredito que para mais alguns presentes), não só uma decepção mas, quase, um desperdício de tempo. É que a oradora apresentou-se bastante mal preparada, cometendo erros e sendo leviana em determinadas apreciações. Ao mesmo tempo parecia cansada e até enfadada. Porém, o assunto mereceria que Odete se informasse melhor e estruturasse a apresentação. Preferiu transmitir as suas opiniões (em geral mal fundamentadas) sobre a Troika, falando sempre ao serviço de determinada ideologia do que aprofundar o assunto do debate. Não sei se ela terá pensado que ... "para quem é bacalhau basta". Sei é que me senti ofendido no lugar do outro elemento da plateia que devia ter sido tratado com respeito e não com displicência). Foi pena! O que valeu é que ao lado de Odete estava alguém que, nitidamente, tinha mais ideias acerca da democracia. E que, diplomaticamente, ajudou a que a sessão não tivesse sido um desastre completo.






 
 

quarta-feira, março 20, 2013

Há 10 anos...



Há dez anos, em Terra Portuguesa, 4 Senhores mentirosos decidiram agredir o Iraque, enganando a opinião pública com histórias sobre Armas de Destruição Maciça no poder de Saddam Hussein. Resultado : 150.000 mortos civis, 500.000 feridos, milhões de fugitivos e deslocados, um pais  destruído e desde então completamente destabilizado. Do lado Português existe todavia um grande vencedor: o Sr. Durão Barroso ganhou a Presidência da Comissão Europeia e nesta função pude receber o Prémio Nobel para a Paz. Os 4 Senhores sanguinários são todos muito religiosos e assim - no dia 19-03-2013 - o Sr. Barroso esteve na Praça de São Pedro para assistir à entronização do novo papa.

Pergunta final: o banco dos inculpados no Tribunal da Haia não seria um lugar mais apropriado para estes 4 Senhores?

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Dinheiro desperdiçado e falta de dinheiro


No dia 22-01-2013, o Dr. Aguiar-Branco, actual ministro da Defesa, criticou as verbas gastas "em excesso" na construção de auto-estradas. O ex-candidato à Presidência do PSD assinalou que desde a entrada na União Europeia foram construídos "mais de 2300 quilómetros de auto-estradas" e que “hoje o país regista (no quadro europeu) o maior número de quilómetros de auto-estrada ‘per capita’ ”. Para Aguiar-Branco, "a verdade é que esta estratégia não alcançou os resultados esperados" e pelo contrário "acelerou a desertificação do interior”. Na sua opinião a origem da difícil situação que hoje Portugal conhece, “não esteve na falta de recursos, esteve na definição de prioridades" e - numa demonstração de honestidade intelectual rara -, criticou os governos do PSD, CDS e PS que nas últimas décadas têm privilegiado, este tipo de investimentos. Pois é, mas a culpa destas escolhas erradas de desenvolvimento não deve só ser atribuída à governação central, porque de facto os nossos autarcas também não são inocentes. Todos nós recordamos que apenas há um par de anos, era de bom-tom, qualquer cacique de qualquer vila exigir para a sua terra uma auto-estrada, um TGV, um metro, uma universidade, um estádio, pavilhões multiusos, museus, uma incubadora de empresas, um parque de diversões, etc. e pressionar neste sentido os sucessivos governos. Mais ainda, este tipo de promessas mirabolantes, servia frequentemente como isco irresistível para ganhar eleições e o povo habituou-se com demasiada facilidade às inaugurações de obras (não pagas) acompanhadas por fanfarras e foguetes. Quem nestes tempos aparentemente dourados, se atreveu a alertar para o despesismo inútil, era logo denunciado como um vilão mensageiro da bota abaixo. Entretanto já utilizei várias vezes o troço Penela-Condeixa da A13 e posso fazer os seguintes comentários. Até agora o movimento naquela auto-estrada é mínimo, o que significa que o fluxo do trânsito de Penela, Miranda do Corvo e Lousã em direcção à A1 é realmente minúsculo ou que simplesmente as portagens são demasiado caras para os utentes. Para além disso, a nova estrada é perigosa com tempo de chuva (drenagem aparentemente menos eficaz do que a da A1) e o nevoeiro entre os pinhais pode tornar-se muito denso. A iluminação é quase inexistente e não há rede de telemóvel em algumas partes do percurso. Um conselho: evitem as avarias nocturnas! Entretanto, a notícia recente, que apenas dois meses após a abertura, já ruiu um viaduto em Rio de Galinhas, parece-me em simultâneo trágico e grotesco.
Quando há pouco tempo num jornal local, o Sr. Presidente da Câmara, lamentou que só 1/3 das habitações de Penela estavam ligadas à rede de saneamento, tinha toda a razão: é de facto arrepiante constatar que em 2013 a maior parte dos cidadãos de Penela não têm acesso a este tipo de serviço, normalmente considerado essencial numa sociedade moderna e evoluída. O saneamento generalizado é um dos pilares de qualquer política em prol da saúde pública e da preservação do ambiente: não é segredo para ninguém que os materiais fecais e os detergentes conspurcam gravemente os lençóis freáticos, uma situação potencialmente perigosa numa zona onde ainda muitas pessoas utilizam a água do seu poço. A principal justificação mencionada, nomeadamente a extensão e distância en­tre pequenas povoações (e subentendido a falta de dinheiro), não é sempre a única: há também casos flagrantes de planeamento débil. Um exemplo flagrante: quando há dois anos a vila de Podentes foi ligada à rede de saneamento, concretamente à nova central de bombagem (desculpem, mas não sou técnico na matéria) nas Vendas, a canalização dos esgotos atravessou quase toda a povoação referida, uma obra que provocou muito incómodo e transtorno. Todavia nenhuma habitação nas Vendas (como a minha por exemplo) teve a oportunidade de ser conectada à rede, mesmo com as condutas a passarem um metro à frente das nossas casas. A explicação era que “isto não estava previsto no orçamento”. Com outras palavras: daqui a alguns anos vão outra vez rasgar as estradas e – além das novas perturbações para a população local - o contribuinte pagará o dobro.

 

terça-feira, dezembro 18, 2012

Conversa de Taberna populista



Num artigo publicado no diário As Beiras, 6 dias antes da vinda de Angela Merkel a Lisboa, Paulo Almeida, líder distrital do CDS de Coimbra, fez uma tentativa bem sucedida para ganhar o Óscar do texto mais fútil e anodino do ano, sob o lema: " a necessidade de alguém nos representar na saída do labirinto da austeridade em que nos querem manter cativos”.
O autor lamenta que  "as visitas alemãs aos países em situação financeiramente difícil mais parecem inspecções". Pois é um facto que os representantes alemães nutrem um grande respeito pelos seus contribuintes e cumprem plenamente a sua obrigação de conferir onde vai o dinheiro dos seus impostos: será para autoestradas sem transito, para estádios de futebol sem espectadores ou para  aeroportos onde nunca aterram aviões? ou simplesmente desaparece no poço sem fundo da corrupção? Como a história já provou que as informações provenientes do Banco de Portugal não são sempre de grande confiança, os Teutôes - do ponto de vista deles - talvez tenham razão em vir verificar "in loco". 
Almeida alude  “às nações asfixiadas por via da moeda única”, porque provavelmente não se recorda que Portugal aderiu de livre vontade à zona euro e em plena consciência das regras e imposições inerentes à adesão e - espero eu - não só para angariar subsídios e apoios.
A denuncia da “confrangedora inexistência política” de Durão Barroso, assinalando que ele “abandonou o barco (ou era um submarino?)” da anterior coligação PSD - CDS/PP",  não é baseada num raciocínio 100% correcto, porque analisando bem  a trajectória politica de Durão, percebe-se logo que não lhe falta actividade política, todavia sempre motivada por puro oportunismo pessoal. Quem esperava que ia defender sem mais nem menos a causa de Portugal, merece um diploma de ingenuidade.
Segundo Paulo Almeida "Cavaco Silva e  Passos Coelho hão-de banquetear-se com Merkel, a quem Vitor Gaspar beijará a mão”. Lamento dizer, mas isto só prova que Cavaco, Passos e Gaspar não só são pessoas educadas, mas também realistas e sabem que devem respeitar a fonte de dinheiro que permite que o Estado Português continue a funcionar.
Finalmente quando pinta o Presidente da República  como “envergonhado e em depressão pela inutilidade em que se tornou, dificilmente fará alguma coisa", deveria de facto rezar para que Cavaco não demita o governo, porque nas eleições que logicamente irão seguir, Almeida poderia ver desvanecer o seu sonho de sempre: um dia entrar em São Bento, custe o que custar.
Concluindo, aconselho vivamente ao Presidente do CDS-Coimbra à leitura do artigo de José António Saraiva no Sol nº 328 com o título"O que nos aconteceu?" onde compara, em termos comprensíveis para todos, Portugal a uma família que gastou a mais durante anos, mas que mesmo assim não hesita em irritar e incomodar os amigos que lhe tinham emprestado dinheiro.
Ingratitude is the world´s reward ...

sexta-feira, outubro 19, 2012

A agregação das freguesias: Penela, a oportunidade perdida

Um dos cavalos de batalha deste governo era, supostamente, a agregação das freguesias, não só por motivos de poupança mas também – creio eu – para modernizar o aparelho do Estado. Já à partida o processo começou de forma inversa oferecendo aos municípios a possibilidade de se pronunciarem sobre a reorganização administrativa de cada território quando isto deveria ser feito logo, desde o início, por técnicos-especialistas, só dando depois às câmaras a possibilidade de recorrer. É do conhecimento geral que o poder local, sejam autarquias, sejam freguesias, nunca foi um grande protagonista de mudanças administrativas, bem pelo contrário: neste aspecto sempre foi um factor de imobilismo conservador e demasiado preocupado com a manutenção das suas prerrogativas. Neste contexto é de esperar que a maior parte dos municípios farão tudo para limitar ao máximo a remodelação administrativa do território, quase um boicote suave…
Entretanto tivemos no 31 de Março a grande manifestação “retro” em Lisboa, que foi verdadeiramente uma mostra de Portugal no seu melhor: milhares de pessoas acompanhadas por grupos folclóricos, acordeonistas e outros Zés Pereiras, vociferando contra a extinção de freguesias. Francamente incrível: enquanto muitos países resolveram já há décadas o seu problema de excesso de entidades minúsculas abaixo do nível de "Câmara Municipal", continua a ser possível em Portugal mobilizar multidões contra esta reforma tão necessária. Qual será o mal trocar as Juntas constituídas por via política e pagas pelo contribuinte, por serviços administrativos, provavelmente de maior competência, prestados por um funcionário da Câmara? Admito que tenho algumas experiências traumáticas com Juntas de Freguesias geridas à base de favores e cunhas, e neste contexto prefiro sem dúvidas um tratamento administrativo neutro, objectivo e não politizado: tratar dos meus assuntos não pode depender da benevolência de alguém; é simplesmente um direito meu. Nos países onde as “freguesias” ou similares foram abolidas, a população recebe apoio administrativo nas instalações existentes, nos horários habituais: neste aspecto nada muda.
Para além disso, todos os argumentos utilizados para a manutenção do “status quo” são de ordem sentimental, alguns francamente erróneos: por exemplo, como é que livrar o país dum estado de esmigalhamento extremo poderia afectar a coesão nacional? Não será antes o contrário? Será socialmente tão saudável convidar a cada quatro anos as populações destas pequenas sociedades a dividirem-se em grupos políticos inimigos e ficarem em pé de guerra partidária na altura das eleições locais?
Outro argumento querido pelos “ tradicionalistas irredutíveis” é a perda da “proximidade” em caso de reforma administrativa: isto era de facto um bom argumento há cem anos no tempo dos bois, dos burros e dos caminhos de terra batida; mas agora, em 2012, na era do telemóvel, do e-mail, da videoconferência, do SMS, com uma rede densa de estradas (por vezes até demais) parece-me um exagero sem limites.
Quem explicará à Troika que o interior de Portugal - e não só - ainda anda na época do paternalismo paroquial mais antiquado, e que há gente que utiliza uma terminologia hilariante do género de “não compreendemos … que se extingam as freguesias de Podentes e Rabaçal com toda a carga ancestral e de identidade que as solidifica e enobrece…”, até quase parece uma frase roubada aos “Monty Pythons”.
Penela optou por só agregar as suas duas maiores freguesias (criando segundo a imprensa uma mega-freguesia (!) de 3300 habitantes), uma fusão que na realidade já deveria ter sido feita há meio-século; de facto, não vemos qualquer semelhança entre São Miguel ou Santa Eufémia e Berlin-Este ou Oeste e “o muro imaginário” que passa através do edifício nº 28 da Rua de Coimbra só é visível para os “iniciados” oriundos desta Terra. Assim, Penela irá reduzir o mínimo possível o número de freguesias (de seis para cinco), mantendo as quatro mais pequenas o que significa uma reforma minúscula baseada numa Lei mole e muito pouco exigente. Existem duas possibilidades: ou o Senhor Secretário de Estado e o Governo ao qual pertence nunca quiseram na realidade uma reforma administrativa profunda do país, e optaram por montar um esquema para inglês ver ou então, se o desejo de dotar Portugal de uma administração municipal mais simples, mais profissional e mais eficaz era mesmo sincero, o Eng.º. Paulo Júlio deve estar muito, mas mesmo muito desiludido com a sua vila natal. 
Quero finalizar - sem qualquer tipo de presunção - com um exemplo esclarecedor. No fim-de-semana passado estive com dois amigos Portugueses na Bélgica, concretamente na cidade onde nasci. É uma pequena cidade rural de 20.000 habitantes (Penela tem quase 6.000) com uma superfície de 120 km2 (Penela 132 km2) e… não têm nenhuma freguesia. No país referido, desde a reforma administrativa em 1961 (há 50 anos!), só as cidades com mais de 100.000 habitantes podem manter um sistema de “subdivisões” ou “freguesias” e – o que é bastante elucidativo - só uma única, Antuérpia com mais de 500.000 habitantes, aproveita esta possibilidade.
Conclusões:
1º Penela perdeu a oportunidade de ser um exemplo motivador para o país inteiro.
2º Uma reforma parcial que não passa de uma pequena intervenção cosmética e superficial, não serve a Portugal em nada, bem pelo contrário, mais uma vez arriscamos continuar a correr atrás do comboio da história.

 

terça-feira, setembro 18, 2012

A partidocracia hipermadura

 
O Secretário de Estado, Paulo Júlio declarou há dois dias que o PSD vai vencer as autárquicas em Coimbra, o líder da oposição António Seguro votará contra o orçamento do Estado porque já ultrapassa Passos Coelho na sondagens e Paulo Portas hesita e hesita e hesita... Assim nesta partidocracia hipermadura, a preocupação principal dos partidos continua a ser "as próximas eleições". Mentalidade um pouco imoral considerando que neste momento Portugal só se mantém em pé graças aos dinheiros que a Troika nos empresta e que a população entrou num estado de pobreza como em nenhum outro país da Europa Ocidental. Falta o dinheiro que alguns destes Senhores ajudaram a esbanjar com grande entusiasmo...

sexta-feira, setembro 14, 2012

As perspectivas deprimentes dos Portugueses

Porque a seguir vem aí outra vez a matilha do Sócrates. Será isto mesmo o destino inevitável para Portugal ? Uma partidocracia estéril, incompetente e auto-repetitiva...?

segunda-feira, setembro 10, 2012

Ideias estranhas sobre a higiene...


Um freguês distraído poderia pensar que os caixotes de lixo de Penela (neste caso de Podentes) correspondem aos critérios geralmente em vigor nos países civilizados: todavia não é o caso. Assim mostram uma etiqueta "LAVADO E DESINFECTADO" que manifestamente nunca foi preenchida, impedindo desta maneira qualquer controlo por parte do cidadão curioso. No entanto, esta curiosidade tem por vezes um motivo forte; de facto - e com alguma frequência - um cheiro nauseabundo e pestilencial emana dos caixotes referidos, altamente apreciado por legiões de moscas. A saúde pública não era um bem precioso?

segunda-feira, setembro 03, 2012

Para rir: as "Universidades" de Verão dos partidos



Eis a definição da palavra "universidade": uma instituição pluridisciplinar de formação de quadros profissionais de nível superior, de pesquisa e de domínio e cultivo do saber humano.
Cada verão, um bocadinho por toda Europa - e, claro, também em Portugal - os partidos políticos organizam as suas famosas "Universidades de Verão"
Estas sessões veraniças de endoutrinação colectiva orquestradas pelos políticos não correspondem em nada à definição referida : não têm nada de "universalidade", ao contrario, são adolescentes e crescidinhos das Jotas, já convencidos, que vão escutar professores igualmente convencidos (alguns talvez com diploma forjado) afim de chegar à conclusão que estão certos, infalíveis e que têm razão. Resumindo: uma grotesca masturbação intelectual em grupo, com direito a tempo de antena.
Devemos proibir os partidos de abusar de uma palavra tão carregada de história, humanismo e universalismo para denominar as suas reuniões em família:  o sentido verdadeiro da palavra "Universidade" deveria ser protegido e declarado "Património Espiritual da Humanidade"...

sexta-feira, agosto 24, 2012

Festa no campo: hábitos discutíveis...


Mentalidade estranha em Podentes - Penela : cada ano repete-se o mesmo ritual estranho e inexplicável: antes da festa nas Vendas, a Junta de Freguesia manda uma equipa que limpa freneticamente a área  (cortam as ervas), mas depois da festa nunca mais aparecem e deixam o lixo, papeis e latas no sítio. Como no filme: E O VENTO LEVOU.
Também não entendo como é compatível com a higiene pública, deixar organizar eventos destes sem prever qualquer tipo de instalação sanitária. Os vestígios desta falta estão ainda bem visíveis. "Não importa" pensam eles, "mesmo assim vamos ganhar as eleições em 2013..." E razão têm...

segunda-feira, agosto 13, 2012

Um pouco ridiculo: informação sobre as praias fluviais:


A Blanche Lda., media solutions, editou um "guia das PRAIAS FLUVIAIS" (na zona Centro). Infelizmente o guia peca por incompletude grosseira. Assim vários concelhos com famosas praias fluviais são omitidos: falamos de Figueiró dos Vinhos, da Lousã, de Gois, etc.   Ao contrário alguns concelhos aparecem estranhamente no meio de um nomans-land como é o caso de Sabugal ou de Oliveira do Hospital; mesmo o Gavião alentejano tem o seu lugarzinho. No final, é evidente que o critério para aparecer neste guia é uma contribuição financeira da parte dos concelhos mencionados. Não pagas, não apareces. Ainda bem que os mapas do Google ou da Michelin não funcionam nestes moldes. Grátis é, e incompleto também.

terça-feira, julho 10, 2012

Na Relva da Selva

Miguel Selvas, o meu talhante habitual, tem uma experiência profissional de mais de vinte anos. O homem, bom rapaz, acabou apenas a quarta classe, mas mesmo assim sabe escrever o seu nome correctamente, num mapa é capaz de indicar sem qualquer hesitação Lisboa, Porto e mesmo Coimbra e nas contas de cabeça é muito mais rápido do que qualquer maquineta: um quilo de febras e quinhentas gramas de morcela dão 8 euros e 40 cêntimos: ...toma! Para além disso o Miguel é exemplar do ponto de vista social: canta aos Domingos no coro da Igreja, é campeão de matraquilhos no bar da Associação e nunca bate na sua mulher. No que diz respeito à sua profissão é especialista em desmanchar cabritos, em cortar bifes muito fininhos e em preparar salsichas frescas.
Estimado Senhor Reitor da Universidade Independófona, dirijo-me a Vossa Excelência, a fim de requerer para o meu amigo o diploma de médico-cirurgião. Devido à sua inegável experiência em mexer em carnes, tendões e nervos, combinado com o seu rico currículo social, tem sem dúvida direito a um máximo de equivalências. Por isso, sugerimos que o candidato Miguel só faça quatro disciplinas semestrais, a saber: Higiene de facas, tesouras e bisturis (Prof. Anónimo), o cálculo de Honorários lucrativos (Prof. Incógnito), Técnicas para viajar a custo de Laboratórios (Prof.  Ausente) e Métodos para combinar o Público e o Privado (Prof. Espectro). Finalmente quero sublinhar que o Sr. Selvas é membro do Partido Sem Complexos e da Carpintaria Internacional. Aguardando respeitosamente....


quarta-feira, julho 04, 2012

A Troika de todas as frustrações


No Diário de Coimbra de 29-06-2012 foi publicado um artigo de opinião da mão do Dr. Horácio Pina Prata, ex-vereador da cidade de Coimbra, sobre a situação de Portugal na zona euro. O artigo aponta uns erros ortográficos crassos em palavras-provavelmente-chave como "furher" (Fhhrer), "Goebells" (Goebbels) ou "Sarkosy" (Sarkozy), mas pronto... Também não peca por delicadeza evocando o Fhhrer e Auschwitz em conjunto com Frau Merkel, porque sabemos (quase) todos que a mãe desta última era uma judia polaca… O autor parece um pouco obcecado com o espectro das colónias (a Alemanha já não tem colónias desde 1918) e demonstra um medo irracional por um eventual câmbio do estatuto de Portugal de ex-colonizador para novo-colonizado. Para além disso, como um verdadeiro kickboxer virtual, distribui pontapés e murros em todas as direcções, atingindo até o pobre Hollande, amigo íntimo da Sra.Trierweiler (não me diga, outro nome Alemão!) que é relegado para o papel de um vulgar colaboracionista do poder de Berlim. Finalmente o artigo - bastante confuso - acaba referindo-se ao inevitável paralelo entre o futebol e a política supostamente hegemonista da Alemanha: quer os Alemães postos de congestão, na linha do Prof. Marcelo que desejava que a cara da Merkel fosse desfeita… Manifestamente, alguns cronistas nacionais voam muito baixo.
Para ouvir vozes um pouco mais sensatas, talvez valha a pena ler alguns extractos de um artigo recente do excelente jornalista belga Van Overtveldt sobre “o completo não-senso de ‘martelar’ na Alemanha””.
“ …Parece um consenso quase completo atribuir o facto de não existir uma solução para a crise contínua do euro à inflexibilidade dos Alemães. “Martelar” na Alemanha tornou-se um hobby nacional em quase toda a “Eurolândia”, exceptuando os Países Baixos e a Finlândia. É estranho, porque não existem motivos para esta raiva…
….A Alemanha é acusada de quê? Resumindo em poucas palavras, acham que a Alemanha se aproveitou enormemente do euro e agora recusa de ser solidária com os outros países. A realidade é que no início do euro em 1999 a Alemanha era “o homem doente da Europa” (crescimento mínimo, desemprego muito alto, altos défices orçamentais e um balanço comercial desequilibrado); no dia de hoje é de longe a economia mais competitiva do nosso continente…
Foi concretamente o chanceler socialista Gerhard Schröder que começou e que continuou uma política de saneamento, flexibilização e moderação orçamental: já nos meados da primeira década do século XXI foi visível que a velha maquinaria social-económica sem fôlego se tinha transformado num conjunto forte e poderoso...
O argumento que defende que a Alemanha vegetou à custa dos outros países não tem fundamento: nada impediu os outros países de governar seguindo o exemplo da Alemanha … Se os outros países se tivessem igualmente transformado no que diz respeito à competitividade, as suas exportações teriam crescido….O crescimento económico não é um “zero sum game”: todos podem ganhar e o bem-estar pode aumentar...
…Agora dizer que a competitividade da Alemanha é exorbitante ou iníqua, evoca a imagem do ciclista que acha que o seu colega obteve uma vitória injusta porque treinou mais e melhor...
…Outro argumento é que os Alemães deveriam ser mais solidários…por outras palavras, sendo o membro financeiramente mais estável e sólido da zona euro, deveria tornar-se garante para as dívidas dos outros (p.ex. através de eurobonds), mas existem várias razões para a sua falta de entusiasmo para esta
cenário. De facto, a credibilidade de muitos países em relação à instauração de uma política de saneamento é mais do que duvidosa e, neste contexto, a Alemanha exige mais controlos e participação a nível europeu.
“Não”, dizem países como a Espanha, Itália e França: em primeiro lugar solidariedade e depois eventualmente mais participação. Querem as garantias da Alemanha para todos, sem admitir qualquer tipo de controlo por parte daquele país; é como se estivéssemos obrigado a pôr em circulação o nosso cartão de credito sem qualquer possibilidade de controlar o uso do mesmo.….
A Alemanha quer uma união política com desistência de competências em favor da Europa. É a única maneira inteligente para manter a união monetária. Os que no dia de hoje martelam continuamente na Alemanha, têm outra agenda: querem (ab-)usar da força financeira e orçamental da Alemanha para não serem obrigados a mudar demasiadamente as suas próprias agendas políticas.


segunda-feira, junho 11, 2012

Marcelo e a cara desfeita de Merkel


No contexto do jogo de futebol entre a Alemanha e Portugal, a prima donna dos comentadores "sobre tudo e qualquer coisa " em Portugal declarou aos meios de comunicação que lhe daria «um gozo acrescido ver a cara da senhora Merkel desfeita».  O Ex.mo. Sr. Professor Doutor (não será também ele um Engenheiro?)  esperava que o resultado do encontro de 11 futebolistas mimados e anormalmente ricos de cá com 11 futebolistas mimados e anormalmente ricos da Alemanha servisse de bastão para desfazer a cara da Chanceler alemã. De facto - na mente do Professor - foi a Angela Merkel que obrigou Portugal a entrar na zona euro e foi ela a responsável pela incapacidade Portuguesa de cumprir os critérios inerentes à adesão. Para além disso, a Merkel não quis compreender que o não-controlo das despesas, o novo-riquismo, a falta de produtividade, a corrupção e a incompetência dos políticos nacionais são simplesmente manifestações da nossa cultura latina que devem ser respeitadas e toleradas..
Não seria intelectualmente mais honesto dizer como Nikos Lekkas, Grego e inspector das finanças a um jornal alemão: " Nos, Gregos, não merecemos misericórdia...(porque a culpa é nossa e de mais ninguém)"? . Estimado Sr. Professor Doutor, declarações como as suas só desprestigiam Portugal e os Portugueses: entretanto a Angela Merkel tenta garantir aos Alemães - incluindo às dezenas de milhares de imigrantes Portugueses - bifes maiores, roupas melhores, escolas melhores e férias melhores do que nos temos. E é verdade: provavelmente não gosta atirar o dinheiro dos contribuintes germânicos em poços sem fundo...
Se os nossos comentadores e políticos tivessem só metade do talento que demonstram Ronaldo, Meireles ou Nani no relvado...

sexta-feira, junho 01, 2012

Simões expulso, cartão vermelho para Providência

Em vários meios de comunicação, o vereador do desporto na Câmara de Coimbra, Luís Providência, fez mais uma vez uma demonstração flagrante da sua classe duvidosa, dando um pontapé nas costas do seu inimigo pessoal José Eduardo Simões, entretanto já KO no chão. Uma vez que a Justiça já decidiu e condenou, as opiniões do Sr. Vereador eram perfeitamente dispensáveis: mas lhe da manifestamente gozo dançar no cadáver do perdedor.
A sua declaração que " só em Portugal é que é possível uma pessoa naquelas circunstâncias ser eleita" não corresponde à realidade. Até existem países onde já foram eleitas pessoas presas na cadeia.
O que é bem típico de um cidadão menos desenvolvido é a sugestão que este caso - falamos de uma peripécia num clube de futebol!-  afecta a imagem da cidade inteira. Só quem é leitor exclusivo do Record  ou d' A Bola pode opinar que o prestigio de uma cidade milenar como Coimbra é dependente da vida interna de um clube de futebol (não é para rir?: Paris condicionado pelo Paris St. Germain, Roma pela Lazio e Berlim pelo Hertha).
Compreendemos que quem só tem o desporto como referência para se perpetuar nas poltronas da Câmara, tenha tendência a sobrevalorizar o impacto do mesmo e - quem sabe - nesta época de crise o povo talvez precise de uma dose mais forte de ópio.
Conclusão: de políticos que gostam de se referir ao Cristianismo, esperamos atitudes um pouco mais impregnadas de misericordia e de indulgência, até porque o Filho de Deus também disse: quem dentre vós estiver sem pecado, lance a primeira pedra.